sexta-feira, 19 de julho de 2013

SOBREVIVÊNCIA SUSPENSA NUM SUSPIRO


Trepida nas ideias o ruído da vida inundada de raios de luz, deixando esfumar sonhos e prazeres submissos, em densidades luzentes com luas vermelhas.

Mistérios feitos de dualidades, e não, incompatibilidades.

Quietudes aparentes balanceadas pelo entusiasmo voraz e a indiferença, numa falência de objectivos, mestra de si mesma.

Abdicar ou desafiar?

Um fluido aturdimento de emoção, arde em permutas da mente, no calar da mágoa.

Deslumbre boémio e incorrigível, que vagabundeia em círculos, num deleite mórbido.

Obsessão interrompida, mesmo no seu núcleo de desfrute privilegiado, para amornar de subtileza, as vulnerabilidades, tão proeminentes quanto extravagantes.

No cimo do pedestal, a plenitude fascinante, troça sem incorporar limites.

Inadaptação profunda apenas especulada. Peculiares incógnitas, insinuam cumplicidades acesas e ilícitas. Tormento húmido de universalidade execrável, preconizado pela matriz persuasora e reducionista.

O benefício de resistência à adversidade sublimada, ainda camufla a insignicância.

Preponderância de enigmas, álibis e hesitações. Avidez relativizada por sacrosantos princípios.

Aparente oratória reivindicativa rejubilante, que protagoniza um estado de ser narcísico, reducionista e enfermo. Manobras de vitimização com renovada insistência.

Surgem as mesmas teorias, reactivadas pela exigência ficcionada do delírio.

A prudência é pouco plausível, face a convincentes rupturas.

Gravitação sem hipóteses de prever uma saída.

Teses em blocos megalíticos de sílex, viram do avesso qualquer lasca de oposição.

Dúvidas glaciares, só permitem acento tónico nos estados intermédios e incoerentes.

Homnídios sob critérios de trasformatação perene, com progressos literalmente marcados por soluços.

O homo sapiens descobre a arte divergido da norma. Bípede, subdividido por tentáculos, fundido no núcleo dos excluídos, dá saltos para a frente, combatendo os gritos de censura, com lacinantes espasmos de indignação, que somente traduzem estilhaços e inibem qualquer apaziguamento.

Busca incessante que não autoriza reconciliação consigo mesmo.

Uma cristalização no cansaço.

Uma espera angustiada pelo medo que, a palavra desistir carrega.

Espaço para um pestanejar e perscrutar o imo até à exaustão.

Descobrir um lugar nas vísceras onde arrumar o mundo ou morrer na penumbra de um tédio induzido para fugir da revolta plissada com sombras e fantasmas, sufocada de indignação e terrores.

Decisão de última hora: esvaziamento do tumulto interior.

O prodígio da sobrevivência suspensa num suspiro.  

texto de Mirandulina (publicado na ANTOLOGIA 2011 da
worldartfriends/Corpos Editora)

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