segunda-feira, 22 de julho de 2013

LAMPIÕES


LAMPIÕES

1

Desilusões são lampiões que se apagam em verticalidade inútil de lâmpadas fundidas e quebradas por um clic, numa cegueira de olhos que vêm privados de luz.

Devolvem uma escuridão embaciada de deceção. Comem a energia, sugam até ao desânimo assassino da motivação e sugerem frequentemente suicídios alternativos e aliviadores.

Fica tudo com vontade própria (o sono, o cansaço, o desinteresse, a inércia), menos os reféns do desapontamento, estacados na espera da substituição da lâmpada.

Intervalos com a densidade do mar vermelho a pregarem rasteiras e a pregarem a inércia à inoperância.

2

Na maior parte das ruas fundem-se candeeiros, tantas vezes que quando algum ainda persiste em brilhar, tem que ter o nome de lampião.

A desesperança pousa no aguardar no meio da negrura ,tons da morte e das cinzas de sonhos, tão espalhadas e disformes num quase diluir no nada.

As deceções dizem presente todos os dias. Salpicam as mais afoitas intensões de ânimo ou invadem em absoluto toda a resiliência, pelo menos por horas deprimidas numa invalidez de angústia impotente e surda.

Deambulam os cegos e surdos na desilusão incómoda quase fatal  ou recolhem à posição fetal na procura do consolo, em colchões mortalha, caixões de mortos-vivos do desassossego.

3

Há por aí raras personagens que como os lampiões irradiam luminosidades até de longe e sobressaem no meio da massa que circula homogénea em tons pastel, como se dentro de um uniforme gasto que deforma e prende qualquer brilho.

Estas lanternas do mundo, nem sempre têm os traços físicos aclamados pelos estereótipos das belezas, mas munem-se de coisas a que se chama, carisma, carácter, presença e quando entram num lugar horizontalizado por vidas opacas, não podem deixar de ser vistos, dando ao local laivos como lasers coloridos, permitido que a opacidade se translucide por algum tempo, mesmo sem que tenham noção deste seu dom.

São momentos para roubar ao lugar-comum e ganhar alento.
 

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