LAMPIÕES
1
Desilusões são lampiões que se apagam em verticalidade inútil de
lâmpadas fundidas e quebradas por um clic, numa cegueira de olhos que vêm
privados de luz.
Devolvem uma escuridão embaciada de deceção. Comem a energia, sugam até
ao desânimo assassino da motivação e sugerem frequentemente suicídios
alternativos e aliviadores.
Fica tudo com vontade própria (o sono, o cansaço, o desinteresse, a
inércia), menos os reféns do desapontamento, estacados na espera da
substituição da lâmpada.
Intervalos com a densidade do mar vermelho a pregarem rasteiras e a pregarem
a inércia à inoperância.
2
Na maior parte das ruas fundem-se candeeiros, tantas vezes que quando
algum ainda persiste em brilhar, tem que ter o nome de lampião.
A desesperança pousa no aguardar no meio da negrura ,tons da morte e
das cinzas de sonhos, tão espalhadas e disformes num quase diluir no nada.
As deceções dizem presente todos os dias. Salpicam as mais afoitas
intensões de ânimo ou invadem em absoluto toda a resiliência, pelo menos por
horas deprimidas numa invalidez de angústia impotente e surda.
Deambulam os cegos e surdos na desilusão incómoda quase fatal ou recolhem à posição fetal na procura do
consolo, em colchões mortalha, caixões de mortos-vivos do desassossego.
3
Há por aí raras personagens que como os lampiões irradiam luminosidades
até de longe e sobressaem no meio da massa que circula homogénea em tons
pastel, como se dentro de um uniforme gasto que deforma e prende qualquer
brilho.
Estas lanternas do mundo, nem sempre têm os traços físicos aclamados
pelos estereótipos das belezas, mas munem-se de coisas a que se chama, carisma,
carácter, presença e quando entram num lugar horizontalizado por vidas opacas,
não podem deixar de ser vistos, dando ao local laivos como lasers coloridos,
permitido que a opacidade se translucide por algum tempo, mesmo sem que tenham
noção deste seu dom.
São momentos para roubar ao lugar-comum e ganhar alento.
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