segunda-feira, 29 de julho de 2013

LUZES

Quando está muito escuro gosto de acreditar que os malmequeres têm consciência da sua magnífica simplicidade.

Fico com a certeza que prestam atenção ao próprio crescer. Milímetro a milímetro, como um gato se espreguiça e estende sob sois abrasadores.

Sem nenhum objetivo que se preze, a não ser, alegrarem as vistas de quem os olha.

Um emanar de beleza toda fragilidade, tal e qual lasers de terna claridade.

Deter-me e seguir-lhes este estender de vivacidade é um antídoto infalível contra os vírus do azedume.

Se os escutarmos quase vemos, como um botão vai desenconchando e todas as ínfimas alterações que vão pintando num campo, apenas verde-escuro.

Ali, são oásis. Aparentemente ignoram o que quer que aconteça.

Deixam ao acaso o amanhã, com uma sabedoria de velhos e a energia de crianças, concentrada numa direção que desconhecem, mas que que deve ser a certa, porque nunca lhes reparei em dúvidas, quer abatam chuvas quer queime o sol, cantem luares ou ataque o breu.

Limitam-se a existir sem questões ingratas.

Já dei por mim a tentar falar-lhes, mas eles riem-se de mim em digestivas gargalhadas, por isso, na maior parte das vezes, limito-me a pensar com eles telepaticamente, na cadência dos movimentos das brisas que os envolvem.

Sussurram muitos lamentos ao serem depenados com a estúpida cantilena da sorte ou do azar – bem-me-quer, mal-me-quer. Confessam-me que o verdadeiro nome deles é Bem-me-queres e ao mirarem o meu sorriso sentem a garantia da sua integridade física e o autoconceito.

Sim, porque são hirtos e orgulhosos! Não se intimidam com o prestígio das rosas ou a solenidade dos crisântemos. Não são as copas sacudidas das árvores que os ensombram, as únicas a quererem colocar negrume na sua existência.

Espalham cascatas de prata de lustro evidente, capaz de afastar com vagas tonalidades, qualquer presença soturna, acendendo as luzes da imaginação.

 

Texto de Mirandulina

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