segunda-feira, 29 de julho de 2013

MANHÃ

Esta manhã a chuva desce as nuvens, degrau a degrau, em pontas de Giselle.

Inunda os olhos das flores e as pontas das telhas, de pingos miúdos de tristeza que não chegam as ser lágrimas e que inundam de atenção conversas intimistas.

Toca tudo sem qualquer ruído, com a leveza soturna das cores esbatidas duma paleta velha.

Parece ter receio de ferir as pestanas da alma ou desalojar as formigas.

Suavidade amortecida, quase sem graça, em ternura adoentada e desencantada.

Penetrantes confortos em monólogos de lábios cerrados e olhar parcialmente fechado por um minuto de introspeção.

Laudos apaziguadores no relaxar de ombros do tédio.

Enche o crânio de miolo pacifico de morte. 

Consolo afetuoso de afirmações sem préstimo, numa espera toda desespero.

 

Apenas o aroma de terra humedecida é intenso.

Repensamento revoltado de viés a concentrar-se nos mais longínquos remoinhos de vendavais.

Rugem as desenraizadas ânsias de rutura desta monotonia.

   

Um escorrer manso, lento e pardo, a preferir ser temporal, numa dança de transição-atração.

 

 

Texto de Mirandulina

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