CONTRA o CENSO não é CONTRASSENSO
Por vezes, senta-se o
aborrecimento na sensatez. Embrulha o corpo, amolece os ossos, deprime a pele,
num nítido semblante de dor da alma, causada pelo entrecruzar eléctrico dos
neurónios.
Contra todos os prognósticos, vicejam
os vermelhos no espanto do próprio sangue em contra-senso.
Contudo, existe uma densidade que
faz tentativas sucessivas de cerco, para atiçar as inseguranças, fomentando
medo.
Prossegue o debate, sempre
rejeitado pela megalomania encaixada em redomas resplandecentes de vazio-eco.
Retorcidos restos musgados de
cabos antigos de canoas e caravelas, crivadas nas fossas dos oceanos, tentam
amarrar o livre arbítrio. Qualquer espernear geme a torturante.
Ser contra o censo não é
contra-senso e é então, que a loucura, feita em atrevimento emergente, desata a
correr, escapulindo das ofertas lambidas de enganadoras delícias.
Resignação como acto virtuoso?
Escondido nos breus, jamais!
O encerramento no silêncio é
permitido, apenas a curto prazo.
Planam marionetas com as costas
curvadas de ancestrais preceitos, desenvolvem os quase pânicos pelas atitudes
castigadoras previsíveis.
Paradigmas a acalentarem a
submissão num costume mórbido.
Toneladas de escravidão
sobrecarregam o cérebro que já não comanda cada músculo, nem todos os nervos e
tendões.
Sem particular ênfase, num
processo gradativo de degenerescência, a sobrevivência vai descolorindo em tons
de desmaio, cada vez mais pastoso e cansado.
Renunciar da identidade,
desbotada escuridão, freio de pleno expandir.
O ânimo amassado pelas doentes
regularidades desliga, na dormência secular.
Sono preso, rasgado por breves
acordar, apenas meio sonhados, que recebem olhares de soslaio autoritários, das
vozes secas.
Uma ode desconexa, promissório
canto, entoa às sereias prontas a saltarem água fora, danadas pela usurpação
traidora do seu cartão de identificação.
Desfloração secreta, espécie de
quebra no íntimo, na contabilidade dos actos, repudiados como adversos e
subversivos.
Perturbadores sopros dissonantes,
ouvem fabricar destinos, desencadeando uma e outra vez, velhos projectos de
castas intenções, submersas em fugas ditas marginais.
Estigmas atravessam-se nas
épocas, rugindo toneladas de dogmas, contrariando a genética, em ânsias
herdadas de morgados sem morgadio.
Fragilidade opaca no disfarce:
castração que não se deixa vitimizar.
Mobilização de reactor, sempre
fixa naquela busca pessoal e colectiva, observadora e autora de si mesma.
Pacatez mítica subterrada na
confecção de bloqueios, ora transparentes de subtileza ora crus, rugosos e
empedernidos.
Teias e casulos nos mais audazes
ensaios de libertação.
O refúgio é um pequeno núcleo de
introspecção e construção, sem sobressair, mas efectivado em eficiência,
ameaçando eclodir no recriar de atitudes acutilantes, invasoras do mundo dos
cordatos.
Postura indómita, poderosa,
afirma o grande encanto da integridade perante as barreiras do censo e a
hostilidade do senso comum, em contrassenso.
Flui um artifício chamado coragem
nas mentalidades que se soltam no proceder com rupturas evolutivas, em espirais
flutuantes feitas de retrocessos e progressos.
Texto de Mirandulina
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